A autoestima é um problema recorrente para a grande maioria das mulheres no mundo todo. Segundo um estudo global conduzido pela marca Dove, mais da metade das entrevistadas relataram serem as responsáveis pela maioria das críticas a si mesmas. Quando foram questionadas se sentiam-se bonitas naquele momento, menos de 5% responderam positivamente. A situação fica ainda mais complicada quando os fatores internet e redes sociais entram na equação. Outro levantamento, realizado pela revista IstoÉ, mostrou que 8,4% das participantes afirmaram que navegar nas redes sociais afeta sua autoestima, estimulando um processo de comparação e diminuindo a autoconfiança.
O consumo exagerado de conteúdos das redes sociais, realmente pode promover uma comparação inconsciente entre a nossa realidade e a dos outros, incluindo a de pessoas que possuem histórias de vida bem diferentes. Com isso, muitas vezes, despertamos o desejo por padrões sociais e de beleza irreais ou dificilmente alcançáveis. Sem contar a expectativa de aprovação e reconhecimento que comumente é gerada, quando se compartilha conteúdos nas redes. Soma-se a isso, o uso de filtros que criam distorções do corpo e reforçam padrões de beleza que não existem. Este processo, pode gerar ansiedade, depressão afetar a autoestima, estimular transtornos de autoimagem e impactar a saúde mental como um todo.
Além de tudo, esse meio de entretenimento, quase infinito, do universo online pode ser viciante, tanto pela sua variedade, quanto pelo fácil acesso e alta capacidade de compartilhamento. De acordo com um estudo realizado no Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), três em cada dez pessoas relatam ter ansiedade ao ficarem longe dos celulares, enquanto 54% têm medo de se sentir mal por não estar com o celular.
O neurocientista, Daniel J. Levitin, diz em seu livro sobre o tema que o consumo ilimitado de conteúdos superestimula o cérebro, podendo causar confusão mental e prejudicar o raciocínio. (Livro “A mente organizada: como pensar com clareza na era da sobrecarga de informação”).
É preciso olhar para a saúde mental das meninas
As mulheres sofrem, desde cedo, uma forte influência social relacionada à estética e aos diversos papéis sociais que devem representar. Elas precisam ser inteligentes, maduras, fortes, amáveis, respeitosas e lindas, expectativas, muitas vezes excessivas, que só aumentam conforme amadurecem. As redes sociais acabam por potencializar essa busca pela perfeição, contribuindo para o desenvolvimento de quadros depressivos.
Visando entender como a pressão estética impacta mulheres desde a infância e distorce a percepção da própria imagem, estudantes do curso de Publicidade e Propaganda da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) elaboraram a pesquisa Mídias Sociais e a Relação das Mulheres com a sua Aparência. E nada menos, nada mais do que nove a cada dez mulheres afirmaram sentir uma pressão estética contínua, o que motiva a busca por corpos perfeitos e impulsiona o mercado de procedimentos estéticos, perpetuando o ciclo vicioso promovido pelo mundo virtual.
Entre os adolescentes que passam mais de cinco horas por dia nas redes sociais, o percentual de sintomas de depressão cresce em 50% para meninas e em 35% para meninos. Esse levantamento foi realizado com base em dados de 10 mil adolescentes de 14 anos em um estudo realizado em 2019, publicado na revista científica The Lancet.
Esse impacto das redes sociais na saúde mental das meninas se confirma em outras pesquisas realizadas, como o estudo da University College London (UCL), em Londres, em que uma a cada quatro garotas que participaram da análise apresentou sinais relevantes de depressão, enquanto o mesmo ocorreu com apenas 11% dos garotos; os pesquisadores constataram motivos como assédio on-line, sono precário e baixa autoestima, acentuados pelo tempo gasto nas mídias sociais.
O cenário nos mostra a importância de reforçarmos a auto estima das meninas nessa fase de construção e descoberta da própria identidade, quebrando padrões estéticos e valorizando a beleza da diversidade.
Limitar a exposição para cuidar da saúde mental
Com a preocupação e o debate acerca da saúde mental dos jovens e a influência negativa que o excesso das telas pode ter, as grandes redes sociais estão sendo pressionadas para tomarem atitudes. Enquanto o Instagram já removeu, em 2019, a exibição do número de curtidas das publicações, o TikTok anunciou que limitará seu uso para pessoas com menos de 18 anos a apenas uma hora por dia.
Os dados acendem o alerta de cuidado com a saúde mental, especialmente para uma geração que está imersa em redes sociais, mas este impacto pode ser observado em todos que passam horas no telefone celular, diariamente. Medidas no âmbito familiar e pessoal para colocar limites ao tempo de exposição às telas e para a promoção de atividades ao ar livre, não digitais, são valiosas, em tempos que a tecnologia e o excesso de informação invadem nossas vidas.