Os transtornos alimentares (TAs) são condições que se manifestam por meio de alterações do comportamento alimentar e de pensamentos, atitudes, emoções e prejuízos físicos associados a esses quadros. Os pacientes com TA têm em comum a preocupação exagerada com o corpo, que os leva a atitudes extremas para controlar o peso, como a prática de dietas radicais e o uso de comportamentos compensatórios, como atividade física excessiva, uso de medicamentos para emagrecer, laxantes e indução ao vômito. Em decorrência, os jovens afetados enfrentam sérios problemas médicos, sociais e psicológicos. 

Para além do olhar científico, é importante uma abordagem social, muito significativa para o desenvolvimento dos distúrbios relacionados à alimentação. Isso porque padrões estéticos  pautam a nossa cultura de forma a abrir espaço ao julgamento, discriminação e bullying – impactando a autoestima, o desenvolvimento emocional e a saúde mental de muitas pessoas.

Se não nos enquadramos nos aspectos visuais considerados adequados, somos automaticamente vistos como piores, menores e excluídos. Com isso, a dinastia da magreza historicamente influencia comportamentos e a maneira como nos relacionamos. Essas manifestações culturais criam ainda mais pressão sobre as mulheres, em que o culto ao corpo é tão estimulado pelos diversos atores da sociedade. 

É preciso rever, de forma sincera e profunda, os conceitos enraizados em nosso consciente coletivo e combater falas e atitudes preconceituosas para proteger a saúde mental de pessoas mais gordas, com respeito à diversidade e valorização dos aspectos comportamentais e socioemocionais –  adotando uma abordagem acolhedora e esclarecida.

 

Quais são os tipos de transtornos?

 

1 – anorexia nervosa (AN)

A anorexia nervosa é um transtorno caracterizado pela restrição alimentar. Ele pode ser acompanhado de episódios de comer compulsivo e/ou purgação (principalmente vômitos autoinduzidos, porém, pode haver também o uso de laxantes, diuréticos ou enemas). Em geral, a anorexia tem início precoce e apresenta maior incidência na faixa etária de 12 a 15 anos. Para a população adulta do sexo feminino, a prevalência de AN varia entre 0,5 e 0,9%.

Este transtorno se manifesta pelos seguintes critérios:

  • redução voluntária, duradoura (mais de três meses) e extrema da quantidade de comida ingerida em níveis não saudáveis;
  • busca incansável por ser magro ou grande temor de ficar gordo, mesmo com o estado claro de desnutrição problemas médicos decorrentes da desnutrição;
  • problemas médicos decorrentes das desnutrição.

Os seguintes critérios também podem estar presentes no diagnóstico:

  • irregularidades menstruais;
  • distorção da autoimagem; excessiva influência do peso ou forma corporais na maneira de se autoavaliar; negação da gravidade do baixo peso.

 

2 – Bulimia Nervosa

A bulimia nervosa (BN) possui maior incidência a partir dos 15 anos, e a prevalência em adolescentes é de 1 a 2%. O transtorno manifesta-se por meio de uma inconstância no comportamento, caracterizada por quatro critérios essenciais:

  • vários episódios de comer compulsivo, por um período superior a três meses. Os episódios de comer compulsivo (episódios bulímicos) são abruptos, e a quantidade de comida ingerida é claramente maior do que a maioria das pessoas comeria. Nessas situações, a pessoa tem a sensação de não conseguir parar de comer ou controlar o que e quanto come. 
  • depois do comer compulsivo, há a sensação de culpa e a busca por alternativas para “eliminar” aquilo que foi ingerido, por meio de jejuns, vômitos (atitude mais frequente), exercícios em excesso ou uso de medicamentos purgativos (laxantes, diuréticos, remédios para emagrecer);
  • peso não tão baixo quanto na anorexia nervosa;
  • busca incansável por ser magro ou grande temor de ficar gordo.

 

3 – Transtornos alimentares não especificados (TANEs)

Os transtornos alimentares não especificados apresentam alguns sintomas de AN e BN ou ocorrem em um período mais curto do que o esperado para o diagnóstico (síndromes parciais ou subclínicas). O transtorno de compulsão alimentar (TCA) também é um dos TANEs, caracterizado por episódios de comer compulsivo. Em estudos com crianças e adolescentes, a maior incidência de TAs é de síndromes parciais ou subclínicas (TANEs), com taxas de prevalência que variam de 2,8 a 6,6% para o sexo feminino e de 0,5 a 0,8% para o sexo masculino.

Embora a obesidade seja uma doença, ela não é considerada um transtorno alimentar. 

 

Quais as causas?

Diferentemente do que se pensa, geralmente, os transtornos alimentares são influenciados por questões genéticas, psicológicas e ambientais. Também devemos considerar fatores de vulnerabilidade, que aumentam as chances de um indivíduo desenvolver um TA e fatores precipitantes, eventos que podem desencadear sintomas alimentares. 

Fatores de vulnerabilidade: 

  • podem ser genéticos (envolvidos em cerca de 50% dos casos);
  • traços de personalidade (como perfeccionismo, perseveração, impulsividade); 
  • questões psicológicas (p. ex., baixa autoestima); 
  • fatores ambientais ou socioculturais (como bullying ou comentários de figuras de autoridade sobre o peso da pessoa) e familiares (p. ex., famílias pouco envolvidas).

Eventos precipitantes: 

  • entre os mais jovens os fatores mais comuns têm relação com a entrada na puberdade (alteração de peso, busca por identidade e pertencimento, sensibilidade a críticas…);
  • brigas com colegas, desilusões amorosas;
  • mudanças de cidade ou escola, perdas na família;
  • figuras de autoridade pressionando por perda de peso, entre outros.

Muitas pessoas que desenvolvem um TA lembram do evento (lugar, época e conteúdo do comentário sobre o peso) que precipitou o quadro alimentar.

 

Como identificar sinais de alerta?

Como a valorização da magreza e a preocupação com o corpo e com dietas é comum em nossa cultura, torna-se difícil reconhecer o momento em que o comportamento e o pensamento de uma pessoa se modificaram além de um limite considerado saudável. Na maioria das vezes, a pessoa não reconhece que está doente. Por isso, alguns sinais podem ajudar amigos, familiares e educadores a identificar quando existe um problema que merece atenção maior.

Uma pessoa pode ter anorexia nervosa quando:

  • está magra e continua a emagrecer ou tem a intenção de emagrecer mais;
  • está sempre de dieta e/ou restringindo determinados alimentos;
  • fala excessivamente sobre peso, comida, dietas e contagem de calorias;
  • passa muitas horas sem se alimentar;
  • se pesa com frequência;
  • usa desculpas para não fazer refeições com outras pessoas;
  • se sente gorda mesmo estando magra ou com peso normal;
  • faz uso de roupas largas para esconder o corpo.
  • pratica exercícios físicos de forma excessiva com a finalidade de emagrecer;
  • se torna isolada socialmente e irritável;

Uma pessoa pode ter bulimia nervosa quando:

  • vai ao banheiro logo após as refeições;
  • passa muitas horas sem se alimentar;
  • reage a situações de estresse emocional comendo;
  • faz compensações para tentar eliminar o excesso de comida ingerida;
  • come escondido ou em horários alternativos;
  • apresenta compulsões alimentares;
  • sente que não tem controle sobre o que come;
  • tem oscilações bruscas e frequentes de peso;
  • mantém o peso apesar de ingerir grande quantidade de comida;

 

Quais os riscos ou consequências? 

TAs podem levar a problemas de saúde física, assim como psicológicos e emocionais, entre eles, frequentemente demonstram isolamento social, dificuldades de relacionamento e sintomas depressivos e ansiosos.

Essas condições combinadas à questões ambientais, podem ter consequências variadas e, muitas vezes, graves como o risco de morte por complicações físicas ou suicídio. 

Possíveis complicações e consequências clínicas:

  •  desnutrição;
  • desidratação;
  • alterações hormonais: irregularidade menstrual ou interrupção da menstruação, redução da massa óssea, atraso do crescimento e do desenvolvimento, infertilidade;
  • temperatura corporal abaixo do normal;
  • redução da pressão arterial e redução da frequência cardíaca ou arritmias;
  • cáries, perdas dentárias;
  • pele ressecada e cabelos finos;
  • lanugo (penugem fina no rosto e nas costas, como de bebês recém-nascidos);
  • anemia;
  • atrofia cerebral, convulsões.
  • disfunções do estômago e do intestino.
  • distúrbios metabólicos (colesterol alto, etc.).

 

Como tratar os diferentes transtornos alimentares?

O tratamento se feito na fase inicial dos transtornos é, na maioria das vezes, efetivo. O acompanhamento médico para condução adequada de cada caso é fundamental. Os pacientes com TAs devem ser tratados por uma equipe multidisciplinar que inclua acompanhamento médico com psiquiatra e pediatra, terapia nutricional e acompanhamento psicológico para o paciente e a família. Independentemente da formação do profissional, é mandatório que ele seja especialista em TAs, mesmo nos casos menos graves. Recomenda-se, inclusive, que, no caso de suspeita de um TA, a primeira avaliação já seja feita por um especialista, evitando atraso no diagnóstico.  

Os TAs têm uma trajetória muito variada em termos de gravidade e duração ao longo da vida da pessoa. Em muitos casos, ocorrem transições de um quadro de anorexia para um quadro de bulimia (e vice-versa), e a transição de quadros mais leves para mais graves também, reafirmando que qualquer situação, por mais branda que seja, deve ser considerada.

 

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© 2023 por Ame sua Mente

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