Drogas e adolescência. O uso de substâncias psicoativas pode danificar a estrutura cerebral de forma permanente, especialmente quando consumidas na adolescência
O consumo de drogas é um problema global que atinge indivíduos de diferentes idades e das mais diversas faixas socioeconômicas. Segundo o Relatório Mundial sobre Drogas 2021, cerca de 275 milhões de pessoas usaram drogas no mundo no último ano, enquanto mais de 36 milhões sofreram de transtornos associados à prática. O documento, divulgado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), aponta um aumento do consumo de drogas e também demonstra uma menor percepção dos riscos deste consumo.
“A menor percepção dos riscos do uso de drogas tem sido associada a maiores taxas de consumo”, afirma a diretora-executiva do UNODC, Ghada Waly. Esse fenômeno pode ser visto, por exemplo, no crescente uso da Cannabis. Embora a potência da cannabis tenha aumentado em até quatro vezes nos últimos 24 anos, a porcentagem de adolescentes que percebem a droga como prejudicial à saúde caiu em 40%. Globalmente, a maconha (cannabis) é a droga mais usada entre os jovens.
“As descobertas do Relatório destacam a necessidade de fechar a lacuna entre percepção e realidade para educar os jovens e salvaguardar a saúde pública”, diz Ghada Waly.
O alerta sobre o risco de banalização do consumo de bebida alcoólica por menores também ficou evidente com a divulgação da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados obtidos em 2019, traçaram um perfil dos estudantes de 13 a 17 anos, e indicam que 63,3% de adolescentes nesta faixa etária já ingeriu algum tipo de bebida alcoólica, sendo que três em cada dez, antes dos 14 anos.
No que diz respeito a outras drogas, a pesquisa evidencia que cerca de 22,6% dos adolescentes experimentou cigarro e cerca de 13% havia usado substâncias ilícitas, como maconha, ecstasy, crack ou cocaína, sendo que 4,3% consumiu estas substâncias antes dos 14 anos.
As drogas no cérebro do adolescente
Os dados do alto consumo entre os jovens são preocupantes, pois diversas substâncias psicoativas podem alterar e danificar o desenvolvimento cerebral, especialmente, quando consumidas na adolescência. Álcool, maconha, cocaína e até medicamentos prescritos afetam a função dos neurotransmissores e, por consequência, a percepção do usuário. É cientificamente comprovado que o uso habitual de drogas afeta o pensamento, o raciocínio e a consciência do indivíduo. E esses efeitos podem perdurar por toda a vida.
Uma das consequências mais evidentes do uso de entorpecentes na adolescência é a redução da capacidade de concentração e memorização, muito utilizadas para realizar as tarefas cotidianas, impactando diretamente o rendimento escolar.
O uso de drogas na adolescência aumenta também as chances de dependência química no futuro e de problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e outros transtornos.
Atenção e abertura ao diálogo
Clarice Madruga, pesquisadora e docente em Psiquiatria e Psicologia Médica da UNIFESP e membro da equipe de saúde mental do Instituto Ame sua mente, reforça o alerta: “Mudanças de comportamento significam problema, melhor investigar o que pode estar acontecendo.”
Confira a lista com alguns fatores indicativos do uso de entorpecentes, entre eles:
• irritabilidade;
• agressividade;
• falta de motivação para os estudos e/ou trabalho;
• troca do dia pela noite;
• insônia;
• falta de motivação para atividades de lazer;
• desaparecimento de objetos ou dinheiro dentro de casa.
A presença de vários destes sinais por tempo prolongado é indicativo de que algo está errado.
O que fazer?
Saiba que conversar é sempre a melhor solução. Ofereça ajuda, afeto e compreensão.
É importante entender os motivos que levaram o adolescente a se envolver com drogas. Busque soluções junto com o jovem e mantenha-se presente e disponível.
A adolescência é um período de muitas mudanças, de bastante insegurança social e timidez, assim, os jovens têm grande necessidade de se sentirem parte de um grupo. Essas são questões que podem acabar levando ao consumo de álcool e outras drogas.
“Jovens seguros e com suporte dentro de casa tendem a não cair tão facilmente em armadilhas”, completa Clarice.
Confira também o podcast sobre o tema com a participação da psicóloga Clarice Madruga.