Estudo revela que mensagens positivas e imagens otimistas são aliadas nos tratamentos do transtorno.
A depressão é um dos transtornos mentais que mais afetam pessoas no mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a condição atinge mais de 300 milhões de indivíduos globalmente; no Brasil, são mais de 11 milhões de casos. Em 2018, o órgão já previa que, até 2020, a depressão seria a doença mais incapacitante do planeta. Em outras palavras, o alerta indica que pessoas com o transtorno não só têm uma vida mais complicada, como também, têm sua produtividade comprometida.
Mediante este cenário, pesquisadores do mundo inteiro estão, diariamente, buscando novas maneiras de tratar a depressão ou de aprimorar os tratamentos já existentes. Uma pesquisa recente, conduzida pela professora de psiquiatria da Universidade de Pittsburgh, Rebecca Price, juntamente com uma equipe de estudiosos, revelou que o uso de frases e imagens positivas, como as de pessoas sorrindo, podem prolongar os efeitos antidepressivos da ketamina em pacientes com depressão. A descoberta é especialmente importante em casos nos quais a doença é resistente aos tratamentos convencionais.
Como funcionou o estudo?
A ketamina é um anestésico que, administrado de maneira intravenosa e em doses muito menores do que quando usado para anestesiar, tem efeitos antidepressivos de ação rápida, trazendo conforto para pacientes com depressão. No estudo, realizado com 154 adultos com o transtorno, um terço deles — que chamaremos de grupo A — recebeu uma infusão de ketamina e retornou no dia seguinte para cumprir quatro dias consecutivos de exercícios digitais.
Nessas atividades, os pacientes foram submetidos a repetidas exibições de palavras e imagens relacionadas entre si, como a palavra “eu” e fotos dos envolvidos, combinadas com adjetivos positivos — entre eles, “bom”, “doce” e “amável” — e fotos de pessoas sorrindo.
Durante o estudo, os pesquisadores também incluíram dois grupos de controle com os demais pacientes:
Grupo B: receberam a ketamina, mas passaram por um treinamento digital “falso”;
Grupo C: receberam uma infusão de solução salina no lugar da ketamina, porém passaram pelo treinamento digital real.
Resultados
Os estudiosos constataram que tanto o grupo A quanto o B, que receberam a droga real, experienciaram um alívio considerável dos sintomas da depressão já no primeiro dia, antes mesmo de qualquer treinamento digital.
No entanto, enquanto o grupo B sentiu o aumento dos sintomas da depressão após cerca de uma semana e meia, o grupo A continuou mostrando uma redução na gravidade da doença até a última análise, ocorrida um mês após a infusão do medicamento e a realização dos exercícios. Já o grupo C, que não recebeu a ketamina e só fez o treinamento digital, teve apenas um alívio pouco significativo dos sintomas do transtorno.
Pioneirismo e futuro das descobertas
O estudo é o primeiro a demonstrar que os efeitos da ketamina, quando aliados a técnicas específicas simples, podem se tornar mais duradouros e eficientes no combate à depressão. Embora os resultados iniciais sejam animadores, os pesquisadores ainda não sabem, ao certo, por quanto tempo o alívio dos sintomas pode durar.
Eles também investigam se técnicas similares às utilizadas na pesquisa podem ajudar a reduzir tendências de suicídio. Além disso, caso os estudos futuros se mostrem promissores, há a intenção de estendê-los para outros transtornos mentais, como a ansiedade. De qualquer maneira, não há contraindicação em querer se cercar de mensagens e imagens positivas. Afinal a autoestima, o otimismo e a esperança são sentimentos fundamentais para o equilíbrio de nossa saúde mental.