Síndrome do fim do ano: como ela afeta a sua saúde mental?
2023 está terminando. Como de costume, temos a impressão de que passou rápido demais. Para muitos, a chegada a dezembro pode desencadear a chamada síndrome do fim do ano. Normalmente, é um período em que se reflete sobre o que aconteceu e o que vem pela frente. Mas o que isso tem a ver com a nossa saúde mental?
Tem tudo a ver. A virada do ano representa o início de um novo ciclo que, inevitavelmente, traz novas responsabilidades, desafios e expectativas em contraste com avaliações sobre as realizações ou frustrações do ano que está se encerrando. Nessa toada, à medida que a passagem de ano se aproxima, podemos nos sentir mais ansiosos ou até mesmo menos motivados.
O que é a “síndrome do fim do ano”?
A “dezembrite” – ou “síndrome do fim do ano” – é um fator que pode desencadear questões de saúde mental, muito por conta da mistura de emoções que nos impactam. Questões profissionais e afetivas surgem com força nessa época, o que abala o nosso equilíbrio emocional.
Dezembro é o mês em que muita gente volta à sua cidade natal para rever familiares e amigos ou fazer uma pausa na rotina. Também é possível encarar esse período como uma oportunidade de retornar a si mesmo, ou seja, de refletir sobre erros, acertos e aprendizados para o futuro.
O desafio é fazer esse movimento introspectivo sem causar sentimentos exagerados de culpa, medo, ansiedade, e por aí vai. Neste contexto, os especialistas nos convidam a validar nossos sentimentos e as dificuldades que enfrentamos com paciência e compaixão para aliviar tanto a pressão quanto a autocobrança.
Por um ambiente profissional mais acolhedor
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, o Brasil já era o país com o maior número de pessoas ansiosas do mundo e o 5º em número de pessoas com depressão. Este cenário é bastante influenciado pela vida profissional, já que muitas organizações não dão a devida atenção à saúde mental. Esse comportamento acaba gerando uma sobrecarga que tende a deixar os trabalhadores mais vulneráveis.
“Quando as demandas são maiores do que aquilo com o que conseguimos lidar, começamos a sentir o estresse”, alerta Andréa S. Regina, diretora-executiva do Instituto Ame Sua Mente.
Por isso, um olhar mais cuidadoso das empresas para o emocional dos colaboradores é tão importante. “A promoção da saúde mental no ambiente de trabalho contribui diretamente para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e, portanto, para maior produtividade”, aponta Andrea.
Crianças e adolescentes podem ter mais dificuldade
A síndrome de fim de ano afeta pessoas de diferentes idades, mas o impacto sobre crianças e adolescentes pode ser ainda maior. Segundo Andréa S. Regina, “os jovens de hoje sofreram com o longo ciclo de isolamento social causado pela pandemia de forma mais intensa”.
Isso porque a privação das relações sociais impacta o amadurecimento desses jovens, em um momento que estão em fase de construção da identidade. Esse período marcado por transformações também amplia as oscilações emocionais que podem se agravar no fim do ano.
Com o cérebro em desenvolvimento e o restrito repertório de habilidades socioemocionais, crianças e adolescentes tendem a ser mais suscetíveis aos transtornos mentais. “Entre os impactos possíveis, estão a queda no desempenho escolar e na assiduidade, o aumento da evasão escolar, da violência, além do abuso e dependência de drogas”, descreve Rodrigo Bressan, psiquiatra e presidente do Instituto Ame Sua Mente.
Por isso, aqueles que convivem com crianças e adolescentes devem estar atentos: “tristeza, irritabilidade e perda de prazer nas atividades, associados a pensamentos negativos recorrentes, dificuldade de raciocínio, pensamentos sobre morte e catastrofismo são alguns sinais de alerta”, aponta Bressan.
Neste contexto, professores, familiares e responsáveis podem desempenhar um papel decisivo na reversão de quadros preocupantes. Veja algumas dicas do que é possível ser feito quando percebemos alguns sintomas:
- pensamentos negativos sobre si: valorize as capacidades e estimule o acolhimento pelo grupo;
- dificuldade de raciocínio, concentração e indecisão: avalie possíveis adaptações se houver um diagnóstico confirmado;
- pensamentos ruins: faça questionamentos realistas, observando sempre os aspectos positivos.
A “síndrome do fim do ano” certamente nos desafia a ter um olhar mais atento às questões de saúde mental, enquanto a aproximação de um novo ciclo nos convida a lidar melhor com as emoções. Mas não se esqueça, os cuidados com a nossa saúde mental devem ser prioridade constante em nossas vidas: 24 horas, sete dias por semana.