Como as escolas podem lidar com adolescentes que cometem autolesão
[Aviso de gatilho: conteúdo de tema sensível relacionado ao suicídio]
O que passa na mente de um aluno que se machuca de forma intencional? A autolesão é um comportamento que costuma gerar muita incompreensão, seja por parte dos pais, educadores ou mesmo dos colegas da escola. Afinal, esse tipo de prática contraria o nosso senso-comum de autoproteção. Contudo, existem algumas motivações, gatilhos e fatores de risco que levam algumas pessoas, especialmente os adolescentes, a recorrem à autolesão.
Ao perceber comportamentos autolesivos em algum aluno é comum que os professores tenham dúvidas sobre como agir. No post de hoje, queremos abrir um espaço de diálogo acerca desse tema tão delicado e levar informação com o objetivo de transformar a escola em um ambiente mais acolhedor para os adolescentes que precisam de apoio.
Os casos de comportamento autolesivo vem aumentando e a conduta para lidar com a situação exige cuidado, uma vez que a autolesão indica um sofrimento mental intenso e pode oferecer riscos à saúde do jovem, em alguns casos, até evoluir para uma tentativa de suicídio.
Foi pensando nisso que o Instituto Ame sua Mente criou uma ferramenta inovadora em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo – o Projeto Bússola: um canal digital que pode ser acessado pelo WhatsApp ou pelo navegador e funciona como um instrumento de orientação para lidar com essas situações na prática.
O que é a autolesão?
Sobretudo, a autolesão é um mecanismo de enfrentamento, onde o indivíduo busca a dor física como forma de evitar ou mesmo se distrair de uma dor emocional grande. Em alguns casos, esse tipo de atitude também é uma forma de resposta a uma sensação de amortecimento emocional. De maneira geral, esse comportamento se caracteriza como uma agressão direta, repetida e intencional contra o próprio corpo, sem que haja a intenção de se matar. Embora pareça contraditório, para quem se autolesiona a dor é uma forma alívio e isso acontece em razão da maneira como o nosso cérebro funciona. Quando passamos por uma dor física intensa, uma série de regiões do cérebro respondem a esse estímulo. O chamado sistema opióide endógeno, que é uma área cerebral responsável por regular as sensações de dor, fica mais ativa nesse tipo de situação e libera uma grande quantidade de endorfina. A endorfina, por sua vez, é um hormônio relaxante natural do nosso corpo. Assim, quem recorre à autolesão, experimenta uma sensação de relaxamento e alívio depois de se deparar com o sofrimento físico. A dor física, nesses casos, também é uma forma de distrair ou aliviar a dor emocional. Por essa razão, a autolesão é um comportamento viciante e, consequentemente, recorrente.
Autolesão em adolescentes
Embora alguns adultos e crianças recorram à autolesão, a prática é mais comum em adolescentes, especialmente na faixa entre 12 e 15 anos. Os cortes são mais habituais, mas queimaduras, arranhões, hematomas, fraturas de ossos e até arrancar pêlos e cabelos são outras manifestações de autolesão. Em muitos casos, este comportamento cessa com a chegada da idade adulta. Mas isso não significa que a questão foi resolvida, já que a autolesão é apenas uma resposta a uma grande dor emocional. Sempre que falta um olhar cuidadoso para o sofrimento psíquico, novas reações podem surgir, incluindo o suicídio. Sendo a autolesão um mecanismo de enfrentamento a sentimentos negativos ou situações desagradáveis, no curto prazo traz uma sensação de recuperação do controle emocional, porém a longo prazo, sem um encaminhamento adequado, além das cicatrizes físicas, as questões psicológicas tendem a se agravar.
A importância do acolhimento na escola
A autolesão em adolescentes é um comportamento que desperta inúmeras reações e sentimentos daqueles que entram em contato com essa realidade. Um erro muito frequente ao lidar com esse jovem é acreditar que ele faz isso para chamar a atenção. Essa postura, em muitos casos, é interpretada como uma forma de desafio, o que acaba promovendo um cenário perigoso de desconexão
Reações extremas podem agravar os sentimentos de culpa, o que também não é bom nesse cenário. Estabelecer vínculos e um diálogo aberto pode ser bastante desafiador quando falamos em adolescentes. Essa fase é marcada pela busca da independência emocional, por isso, é comum que o jovem se mostre menos acessível. Para promover o diálogo e fazer com que se sintam à vontade em pedir ajuda é fundamental criar um ambiente seguro que acolha, evitando reações e julgamentos. Também é importante respeitar a privacidade deste adolescente e mostrar disponibilidade para conversar. A escola tem um papel importante para o encaminhamento adequado dos alunos para uma rede de cuidados, portanto o suporte dos professores e gestores escolares é, muitas vezes, crucial para o processo de recuperação do jovem, que também envolve a família e um profissional da saúde.