A saúde mental dos adolescentes pode ser afetada por diferentes fatores sociais, porém, uma questão determinante é a imersão nas redes sociais. Esse ambiente, que faz parte da vida da maioria das pessoas, pode trazer prejuízos significativos, especialmente nessa fase da vida em que se constrói a própria identidade.
A internet parece encorajar uma postura crítica e intolerante. Com frequência, observamos posições duras e agressivas que, quando orquestradas, estabelecem a cultura do cancelamento – prática de linchar virtualmente ou banir uma pessoa das redes sociais por conta de atitudes supostamente condenáveis. É preciso cuidado com esse fenômeno, pois em questão de horas, as redes sociais se tornam um tribunal em que o réu é tratado com hostilidade e, muitas vezes, condenado sem qualquer direito à defesa. A pena é o “cancelamento”, um boicote que pode trazer prejuízos reais e irreversíveis para a vida dessa pessoa.
“Na cultura do cancelamento, há um efeito manada; as pessoas passam a criticar de forma conjunta sem conseguir avaliar o que estão julgando”, aponta Gustavo Estanislau, psiquiatra e especialista do Instituto Ame sua Mente, em uma recente entrevista ao jornal O Globo.
Esse comportamento exclui também da sociedade a possibilidade do diálogo, da diversidade de ideias e da resolução de conflitos de forma construtiva.
Apesar de estar muito associado a figuras públicas, por conta da visibilidade alcançada, à medida que essa atitude passa a envolver milhões de pessoas, não é surpreendente que aconteça em outros contextos. Entre estudantes, o cancelamento acontece em menor escala, sobretudo relacionado ao bullying, um problema que faz parte do ambiente escolar e do universo digital.
Bullying e cyberbullying se tornam crimes
O bullying é caracterizado por um quadro de agressões repetitivas de perseguição ou intimidação do agressor (ou de um grupo) contra a vítima, realizado presencial ou virtualmente (cyberbullying).
A partir de 2015 essa prática passou a ser tratada conforme as diretrizes do Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Lei Nº 13.185/2015), que definiu os critérios do que seria considerado bullying e cyberbullying, orientando a prevenção e o combate dessas atitudes por meio de práticas de conscientização, assistência psicológica, social e jurídica.
Em janeiro de 2024, estes tipos de intimidações sistemáticas passaram a ser classificadas como crime graças à lei n.º 14.811/2024. A punição pode chegar a 4 anos de reclusão, de acordo com a magnitude dos atos.
“Esta lei é necessária, tanto pela gravidade dos desdobramentos que o bullying tem para crianças e adolescentes, quanto para podermos estabelecer parâmetros do que é razoável quando falamos de mídias sociais e internet. Muitas pessoas que são agressivas na internet não têm noção de como aquilo pode ser lesivo para os outros e que pode ser considerado um delito”, afirma Gustavo Estanislau.
(Leia também: Cyberbullying: como ele afeta a saúde mental dos jovens)
Além da criminalização do bullying e do cyberbullying, as comunidades escolares têm mais um motivo para celebrar. No início de 2024, foi sancionada a lei que institui a Política Nacional de Atenção Psicossocial nas Comunidades Escolares. A grande mudança estabelecida é a introdução de uma estratégia de integração e articulação das áreas da educação e da saúde no desenvolvimento de ações de promoção e atenção psicossocial no ambiente escolar.
Saúde mental deve pautar os debates na sociedade
Não é à toa que a saúde mental dos jovens se tornou foco de políticas públicas. Pesquisas revelam um cenário preocupante com estatísticas crescentes de agressividade, autolesão, transtornos mentais e comportamentos suicidas.
Barreiras legais podem conter comportamentos agressivos e seus danos, contudo o debate sobre uma nova cultura de saúde mental e o engajamento de toda a sociedade na criação de um ambiente favorável – on e offline – são fundamentais. #amesuamente
Há 5 anos, o Instituto Ame sua Mente, desenvolve e implementa projetos para promover a saúde mental no ambiente escolar e dissemina o conhecimento científico através de conteúdos em diferentes formatos disponíveis gratuitamente em nosso site. Acesse e aprenda muito mais sobre o tema.
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