A busca pelo corpo perfeito
Em um mundo de redes sociais e filtros, a busca pela melhor aparência deixou de ser um detalhe. Mas como identificar se a forma como vemos e percebemos o nosso corpo é equilibrada? Essa parece ser uma questão cada vez mais complexa a ser respondida. Existem, porém, alguns sinais que podem nos alertar se estamos passando do limite.
Hoje já se conhece uma série de distúrbios relacionados à imagem corporal. Em uma sociedade que valoriza corpos sarados e a aparência perfeita, quem sofre com a própria imagem costuma não medir esforços para perseguir um ideal inatingível.
E apesar de ainda existir muito preconceito e desinformação, o diagnóstico precoce desses distúrbios pode representar mais qualidade de vida e menos sofrimento para essas pessoas. É sobre isso que queremos conversar no post de hoje!
Dismorfia corporal
A dismorfia corporal é um distúrbio que se caracteriza pela insatisfação extrema associada a um mal-estar com relação à própria imagem. Também chamada de síndrome da feiúra imaginária, a dismorfia afeta cerca de ,2% da população e, no Brasil, atinge 4,1 milhões de pessoas. Em geral, a dismorfia surge na adolescência, prejudicando tanto o desempenho escolar, quanto a vida social. Quando não tratada, ela tende a piorar na fase adulta, momento em que os sintomas acabam se tornando mais perceptíveis.
Para quem sofre de dismorfia, o corpo possui algum tipo de deformidade que só o indivíduo vê. Em geral essa “deformidade” está relacionada com uma parte do corpo, mas também existem casos onde a pessoa não aceita suas formas ou sua composição corporal, por exemplo. Nesses casos, ela se enxerga feia ou gorda e utiliza diferentes artifícios para atingir padrões de beleza que muitas vezes não correspondem ao seu tipo físico. Olhar-se excessivamente no espelho, evitar o contato social porque se considera feio(a) e estar sempre pedindo a opinião dos outros sobre sua aparência são alguns dos sinais de que algo não está bem.
Infelizmente, o diagnóstico deste distúrbio costuma ser tardio. Isso porque, normalmente, quem tem dismorfia, sente vergonha de se expor ou falar sobre o assunto. Mas o pior é que grande parte das pessoas com dismorfia corporal não sabe. Muitas não reconhecem que a busca incessante pelo corpo perfeito afeta seus relacionamentos e sua vida como um todo. Na maioria das vezes, as pessoas só costumam perceber quando o indivíduo começa a buscar por procedimentos estéticos e cirurgias plásticas de forma obsessiva, colocando em risco a própria saúde e, em alguns casos, a própria vida.
Para os especialistas, a dismorfia corporal é uma manifestação do espectro do transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e costuma estar associada com transtornos como ansiedade e depressão. Durante o tratamento, é fundamental o acompanhamento integral olhando tanto para os aspectos da ansiedade e depressão, como também para o incentivo a autoaceitação.
Vigorexia: excesso de músculos e falta de satisfação
A vigorexia também é um tipo de distúrbio dismórfico. Contudo, ela não está associada a uma “deformidade” que só o indivíduo vê, mas a uma falta de percepção com relação ao vigor físico. Também chamada de síndrome de Adônis, em razão do deus grego da beleza, a vigorexia é mais comum em homens, especialmente entre 18 e 35 anos.
Assim como a dismorfia, a vigorexia também é considerada uma manifestação do espectro do transtorno obsessivo compulsivo e está associada à ansiedade e depressão em inúmeros casos. A pessoa com este distúrbio, mesmo com uma excelente forma física, se enxerga fraca, magra e feia, ou seja, ela tem uma imagem completamente distorcida do próprio corpo.
Tanto a vigorexia, quanto a dismorfia possuem fatores sociais relevantes. Em uma sociedade que valoriza cada vez mais a beleza estética baseada em padrões, a insatisfação com o próprio corpo acaba sendo reforçada. Esse quadro muitas vezes é refletido dentro de casa ou na escola, criando condições propícias para o surgimento dos distúrbios.
Pessoas que sofrem com a vigorexia costumam ter uma dieta desequilibrada, baseada em proteínas e suplementação. Em geral, a opção pelo consumo de alimentos e suplementos é feita sem qualquer acompanhamento médico. Existem pessoas que ainda recorrem aos esteróides e anabolizantes, que podem representar riscos sérios à saúde. A rotina de exercícios também costuma ser rígida e, em geral, prejudica a vida social.
Tanto na vigorexia quanto na dismorfia, a busca pelo corpo ideal é inatingível. Ainda que a pessoa esteja em ótima forma física, ela não consegue se sentir satisfeita, já que por trás dessa busca existem problemas de saúde mental que precisam ser tratados.
O diagnóstico também costuma ser tardio e em geral ocorre quando a vigorexia leva aos transtornos de ansiedade ou à depressão. Os sinais de alerta, no entanto, podem ser percebidos bem antes: além da pessoa se alimentar e treinar de forma desequilibrada, ela perde outros interesses que não estejam ligados à atividade física e abre mão dos relacionamentos para treinar e se manter na dieta. Alguns, acabam se escondendo atrás de roupas largas e evitam o contato social.
Buscando ajuda
A identificação precoce de um distúrbio com relação à própria imagem e percepção corporal pode prevenir uma série de transtornos futuros, especialmente relacionados à ansiedade e depressão. Por isso, é importante estar atento aos sinais de alerta e buscar ajuda se sentir que a sua relação com a autoimagem não anda legal.
Hoje existem diferentes abordagens para tratar os distúrbios de imagem e compreensão do próprio corpo. As diversas linhas de psicoterapia e práticas de autoconhecimento podem ser ferramentas eficientes para lidar com eles.
Trabalhar a autoaceitação, o convívio social saudável e a autocompaixão também são fundamentais. O objetivo das diversas práticas terapêuticas, somadas à mudança de comportamento do paciente, têm como finalidade evitar os pensamentos obsessivos relacionados ao próprio corpo. As técnicas comportamentais também podem ajudá-lo a evitar situações que servem de gatilho.
Buscar ajuda não é motivo de vergonha, assim como não ter o corpo perfeito também não é. Cuidar a mente é importante para manter um corpo saudável e uma vida mais feliz.
Gostou de saber mais sobre a forma como vemos o nosso corpo está relacionada com a nossa mente? Confira também o que são os ,primeiros socorros emocionais e como cuidar da mente quando estamos em estado de emergência!