Crianças e adolescentes podem ser impactadas por diferentes questões relacionadas à saúde mental. “Em crianças com até 10 anos de idade, os transtornos mais comuns são aqueles definidos como externalizantes ou disruptivos, como o TDAH e o transtorno opositor desafiador (TOD)”, aponta Gustavo Estanislau, psiquiatra e especialista do Instituto Ame sua Mente, durante live sobre saúde mental.
O que é transtorno opositor desafiador – TOD?
TOD é caracterizado por um comportamento que contesta qualquer tipo de autoridade, seja a mãe, o pai, o professor ou outro adulto responsável. Com isso, o ambiente familiar pode ser prejudicado, bem como o desempenho escolar. Os comportamentos instáveis associados ao TOD podem se dividir em três grupos: humor irritável, comportamento argumentativo e comportamento vingativo.
Qual é a prevalência de TOD?
Segundo diferentes estudos, o TOD é mais comum entre meninos do que entre meninas. A sua prevalência no Brasil varia entre 2% e 16% da população, dependendo da idade e dos critérios utilizados. O mesmo intervalo percentual também é estimado dentro do contexto global.
Quais são os sintomas do transtorno opositor desafiador?
O diagnóstico do transtorno opositor desafiador costuma ser complexo, pois muitos dos sintomas característicos são considerados comuns no desenvolvimento de uma criança. A diferença está na intensidade desses comportamentos, sua duração e, eventualmente, em alguns comportamentos específicos como, por exemplo, o comportamento vingativo. Veja alguns dos sintomas mais comuns:
- Comportamento desafiador: desobediência às regras, aos pais e aos professores, além da negação em seguir instruções;
- Comportamento irritável: explosões de raiva frequentes e intensas;
- Comportamento vingativo: esse comportamento acontece especialmente em relação a adultos que a criança acredita que lhe causaram algum mal;
- Teimosia: recusa em ceder, mesmo quando suas demandas são absurdas ou inapropriadas;
- Dificuldade em lidar com frustrações: diante de situações desagradáveis ou estressantes, a criança tende a se desencorajar facilmente;
- Comportamento impulsivo: crianças com TOD comumente agem sem pensar nas consequências de seus atos.
Como diferenciar “birra” e transtorno opositor desafiador?
O caráter contestador do transtorno opositor desafiador pode levar as pessoas a confundirem um problema de saúde mental com um tipo de birra por parte da criança.
A principal diferença entre uma simples birra e o comportamento típico do TOD é a sua duração. Uma “pirraça” da criança em momentos específicos pode ser algo que não mereça maior preocupação. Porém, quando isso passa a ser um comportamento permanente, que se estende por meses, é muito importante buscar um profissional de saúde.
As chamadas birras também são mais comuns até os cinco anos de idade e tendem a ser raras em crianças mais velhas. Já o TOD pode ocorrer em crianças mais velhas e também adolescentes.
Quais são as causas e as consequências do transtorno opositor desafiador?
Embora não tenha uma causa específica, o TOD pode ser desencadeado por alguns fatores, tais como abusos e ambientes agressivos ou negligentes durante o desenvolvimento da criança. A predisposição genética também pode ser determinante. Assim, crianças com histórico familiar de TOD podem ter maior chance de desenvolver o transtorno.
Dentre as consequências do transtorno opositor desafiador, estão os problemas de relacionamento em geral. O comportamento da criança com o transtorno pode dificultar as amizades e aumentar as chances de bullying. Quanto mais cedo houver um diagnóstico, melhor, uma vez que este possibilita a maior efetividade do tratamento.
Como lidar com crianças ou jovens com TOD?
O relacionamento entre professores e crianças com este transtorno pode ser bastante complexo. Isso porque o transtorno implica justamente no contínuo desafio à autoridade e pode comprometer o desenvolvimento da criança ou jovem.
A abordagem mais eficaz é aquela que evita a todo custo uma equiparação de tom, ou seja, não se deve adotar uma postura agressiva para conter a criança. É muito importante ter calma para “baixar a temperatura do conflito”, por meio do diálogo transparente. Quando a criança demonstra algum tipo de progresso em seu comportamento, ainda que não muito significativo, deve-se elogiar para estimular a melhora contínua.
Esportes podem favorecer o controle do transtorno opositor desafiador
Crianças com transtorno opositor desafiador podem ser muito beneficiadas pela prática de esportes. Isso porque os esportes promovem gasto energético, podendo reduzir o ímpeto da criança. Além disso, os limites impostos pelas regras das modalidades esportivas fazem com que a criança se familiarize com o fato de que não pode contestar tudo ou fazer o que deseja a todo momento.
Como tratar o transtorno opositor desafiador?
Uma vez diagnosticado, o TOD é tratado de acordo com o caso. Por exemplo, é possível adotar a terapia comportamental para atenuar a agressividade da criança e ajudá-la a desenvolver habilidades para melhorar a comunicação e a resolução de problemas.
Outro tratamento viável é a terapia familiar, que auxilia a equilibrar as relações entre a criança, seus irmãos e seus pais ou responsáveis. Também há casos que demandam o uso de medicamentos para controlar os sintomas de impulsividade, agressividade e irritabilidade.
No ambiente escolar, a criança com TOD pode evoluir por meio de aconselhamento, planos de intervenção comportamental individualizados e serviços de apoio acadêmico.
Saúde mental deve estar na pauta das escolas e das famílias
O transtorno opositor desafiador é apenas um dos muitos distúrbios que podem afetar a saúde mental de crianças e adolescentes. Por isso, é fundamental que o tema deixe de ser tabu na sociedade e todos possam buscar seu desenvolvimento emocional.
O Instituto Ame sua Mente, contribui com diferentes projetos e intervenções que ajudam a promover a saúde mental no ambiente escolar. É possível acessar informações científicas, com linguagem acessível sobre diversos assuntos relacionados aos cuidados com a mente em nosso menu de conteúdos, neste link.