Você se sentiu ansioso em algum momento nos últimos tempos?
Aquela sensação de friozinho na barriga é bastante comum. Trata-se de uma resposta natural do corpo a situações percebidas como desafiantes ou ameaçadoras. Em níveis moderados, ela pode até ser benéfica, pois aumenta a vigilância e nos prepara para eventos estressantes.
Portanto, ficar ansioso diante de algumas circunstâncias é algo comum que, na maior parte das vezes, não tem relação com algum transtorno de ansiedade. Antes de apresentar um trabalho ou quando estamos vivenciando um momento muito importante como o nascimento de um filho, por exemplo, é muito natural que a gente sinta algum grau de ansiedade.
“Temos dificuldade em aceitar que a ansiedade é um sintoma normal da vida. Uma boa estratégia para superar esses momentos é não pensar a respeito. Quando tentamos controlar a ansiedade racionalmente e ficamos pensando nela, a tendência é que os sintomas se intensifiquem”, explica Rodrigo Bressan, psiquiatra e presidente do Instituto Ame sua Mente, em entrevista ao Dr. Drauzio Varella.
O que é transtorno de ansiedade?
Mas quando a ansiedade é intensa e duradoura, interferindo nas atividades diárias, ela torna-se prejudicial à saúde mental. Nestes casos, ela pode levar a sintomas emocionais, físicos e comportamentais desconfortáveis, como dificuldade de concentração, insônia, irritabilidade, palpitações e preocupações excessivas.
Segundo a definição do Ministério da Saúde, os transtornos de ansiedade são doenças relacionadas ao funcionamento do corpo e às experiências de vida.
Quais as causas que levam aos transtornos de ansiedade?
Não existe uma causa específica para os transtornos de ansiedade. Dentre os fatores que podem contribuir para a ocorrência de um distúrbio desse tipo estão:
- predisposição genética;
- ocorrência de eventos traumáticos;
- estresse crônico;
- ambiente familiar conturbado;
Sob o ponto de vista da neurociência, é interessante mencionar que a própria estrutura cerebral influencia nossa resposta às situações, ao mesmo tempo em que nossas experiências de vida podem alterar nosso cérebro e seu funcionamento. Trata-se de um grupo de neurônios que fazem parte do sistema límbico e são responsáveis por processar as emoções. Pesquisas demonstraram que pessoas com uma amígdala cerebral maior têm maior predisposição a desenvolver transtornos do humor, que podem evoluir para transtornos de ansiedade.
Qual a prevalência da ansiedade no Brasil e no mundo? Como esse transtorno impacta a população?
Os transtornos de ansiedade atingem cerca de 300 milhões de indivíduos no mundo e os dados apontam que o Brasil lidera o ranking global na prevalência.
26,8% dos brasileiros receberam diagnóstico médico de ansiedade. Quando fazemos o recorte da população mais jovem, entre 18 e 24 anos, a prevalência da doença é de quase um terço (31,6%) e ultrapassa essa marca quando consideramos a população feminina (34,2%).
Fonte: Covitel – Estudo de monitoramento dos fatores de risco para doenças crônicas realizado no Brasil em 2023.
Quais são os principais sintomas e comportamentos associados aos transtornos de ansiedade?
Pessoas que convivem com algum tipo de transtorno de ansiedade costumam manifestar:
- dificuldade para relaxar com preocupações, tensões ou medos exagerados;
- sensação contínua de que algo muito ruim acontecerá;
- preocupações exageradas com saúde, dinheiro, família ou trabalho;
- medo extremo de algum objeto ou situação em particular;
- medo exagerado de ser humilhado publicamente;
- falta de controle sobre os pensamentos ou atitudes, que se repetem independentemente da vontade;
- pavor depois de uma situação muito difícil.
Quais são os principais tipos de transtornos de ansiedade?
Existem diferentes transtornos de ansiedade, que podem ser diagnosticados por um psiquiatra. Veja algumas características e padrões:
Transtorno da Ansiedade Generalizada (TAG): sensação geral e permanente de que algo ruim vai acontecer. A TAG gera constantemente preocupação, muito medo, agitação e dificuldade de concentração, o que impacta de forma negativa as relações pessoais e profissionais.
Transtorno do Pânico (TP): também conhecido como “síndrome do pânico”, se caracteriza pelos ataques agudos de ansiedade, com forte sensação de medo ou mal-estar, acompanhados de sintomas físicos, como calafrios ou ondas de calor, desmaio, vômitos ou dores no peito no pico da crise.
Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TSPT): surge depois de um evento muito intenso mental e emocional, que gera uma ansiedade muito significativa e persistente que se estende para além da duração desse evento.
Transtorno de ansiedade social: caracteriza-se pelo medo incapacitante de qualquer situação que envolva estar em público. Aos poucos, gera isolamento que pode levar a quadros de depressão.
Fobias específicas: incluem os medos específicos, como de animais, altura, trovões, entre outros.
Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC): relaciona-se a pensamentos que levam a pessoa a agir de forma compulsiva, à obsessões – pensamentos, imagens ou impulsos que ocorrem frequentemente, contra a vontade da pessoa. Em muitos casos, o TOC está ligado à limpeza e à organização.
Como identificar uma crise de ansiedade?
A crise de ansiedade é um estado psíquico em que o organismo apresenta diferentes sintomas, tais como falta de ar, tremores, taquicardia e sudorese. No entanto, é preciso observar alguns detalhes para identificá-la.
Quem tem episódios recorrentes de ansiedade sempre vivencia sintomas físicos, tais como tremores, eriçamento de pelos e respiração acelerada. Em casos mais extremos, quando os sintomas são fortes e há também dor no peito, é importante procurar uma unidade de emergência para examinar se trata-se de um episódio cardíaco.
Para diferenciar crises de ansiedade das crises de pânico podemos observar que no último caso, as crises tendem a ser mais severas com uma duração mais curta e, muitas vezes, não têm um motivo aparente ou lógico. Já a crise de ansiedade costuma ter relação com um fato concreto que funciona como gatilho e leva a uma preocupação excessiva.
Como descobrir os fatores que potencializam a ansiedade?
Mesmo as pessoas que não são diagnosticadas com um transtorno de ansiedade podem ter gatilhos que fazem com que elas fiquem mais ansiosas. A identificação é muito particular e requer autoconhecimento.
“Um caminho é tentar mapear o histórico dos momentos em que você teve mais ansiedade e o que aconteceu antes disso. Por exemplo, um evento aparentemente corriqueiro pode fazer com que a pessoa tenha um pensamento muito negativo. O ideal é observar essa relação de causa e efeito”, explica Bressan.
Quais os riscos ou consequências?
Quando não tratado, os transtornos de ansiedade podem prejudicar a vida do paciente na medida que prejudica as atividades rotineiras, bem como as relações pessoais.
A saúde física também pode ser afetada, em diferentes graus, dentre as possíveis consequências estão: doenças cardíacas, pressão alta, distúrbios gastrointestinais, dores de cabeça crônicas e supressão do sistema imunológico.
Outra doença mental associada à ansiedade é a depressão, que pode surgir à medida que o quadro de ansiedade se desenvolve sem o tratamento correto. O desgaste emocional causado pelos prejuízos que o transtorno de ansiedade traz ao dia a dia da pessoa, contribui para o surgimento de sintomas depressivos. Além disso, causas genéticas e ambientais podem influenciar o surgimento de mais de um transtorno mental.
Como tratar os diferentes transtornos de ansiedade?
O diagnóstico precoce é decisivo para o sucesso na recuperação do paciente. Ele ajuda a prevenir complicações, reduz o sofrimento e melhora a qualidade de vida da pessoa e daqueles que convivem com ela, além de favorecer uma intervenção para o tratamento mais eficaz.
Os transtornos de ansiedade podem ter diferentes abordagens, que possibilitam uma melhora dos sintomas. Existem três principais tipos de tratamento:
- psicoterápico com sessões regulares com psicólogo ou com médico psiquiatra;
- medicamentoso – que sempre ser feito por um psiquiatra com acompanhamento e receita médica;
- combinação dos dois tratamentos, medicamentoso e psicoterápico.
Em grande parte dos casos, as pessoas passam a se sentir melhor no dia a dia. A avaliação de um médico especialista é fundamental, tanto para direcionar o tratamento da forma mais adequada, quanto para possibilitar um diagnóstico precoce e preciso.
É preciso falar sobre os transtornos de ansiedade e sobre saúde mental
Os transtornos de ansiedade afetam milhões de pessoas e impactam muitos brasileiros trazendo diversas consequências sociais e econômicas para além da baixa qualidade de vida desses indivíduos. Para que possamos enxergar esta realidade e transformá-la é preciso prevenir e tratar corretamente.
Para isso, um passo fundamental é reduzir o estigma e o preconceito através do debate nos diversos núcleos sociais. Valorizar a saúde mental, encará-la com naturalidade e promover cuidados todos os dias são atitudes que todos nós podemos e devemos cultivar.
No Instituto Ame sua Mente, temos diferentes projetos que ajudam a promover a saúde mental no ambiente escolar e buscam fomentar o debate em toda a sociedade. Acesse nosso menu de conteúdos para consumir em diversos formatos e saber mais sobre diversos temas relacionados à saúde mental. Acesse gratuitamente neste link.